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sábado, 9 de janeiro de 2016

Arcebispo belga: “chegou a hora” do Papa Francisco defender a Tradição da Igreja



Por: Jeanne Smits (LIFESITE News), 08/01/2016
Tradução: Traditio Catholicae
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Numa taxativa entrevista, o arcebispo emérito de Bruxelas adverte que a ambigüidade no texto final do Sínodo foi “muito perigosa”, mas diz crer que o Papa manterá sua palavra e defenderá a Tradição Católica.

BRUXELAS, 8 de janeiro de 2016 (LifeSiteNews) – Pouco depois de deixar a sé de Mechelen-Bruxelas aos 75 anos de idade – idade oficial para aposentadoria dos prelados da Igreja Católica Romana – o Arcebispo André Léonard, ex primado da Bélgica deu uma entrevista de longo alcance para o semanário francês Famille chrétienne. O Bispo Léonard fez observações diretas incomuns sobre crise de vocações, as perigosas “ambigüidades” do recente Sínodo das Famílias e outros assuntos controversos. Na Bélgica liberal ele teve reputação de ser conservador e até mesmo intolerante – o contrário do seu sucessor, Jozef De Kesel, ex bispo auxiliar do Cardeal Danneels da infame “máfia de Sankt-Gallen”. Léonard foi até mesmo atacado por um grupo de ativistas de topless do “Femen” em abril de 2013: elas o encharcaram com água durante uma conferência, o acusando de “homofobia” por suas declarações sobre a “anormalidade” do homossexualismo.

Mas ele nunca vacilou. Respondendo à jornalista do Famille chrétienne, ele disse: "Estou convencido de que o Magistério da Igreja é válido, mesmo nas questões mais sensíveis e controversas".

Sob sua liderança, o número de seminaristas progrediu dez vezes em sua diocese, crescendo de 4 quando ele chegou, para 55 em sua partida. O Arcebispo Léonard também é conhecido por sua abertura para as instituições católicas tradicionais, como a Fraternidade Sacerdotal São Pedro (FSSP) e o Instituto de Cristo Rei, ambos os quais ele recebeu em Bruxelas. Pouco antes de deixar a Bélgica para se aposentar no santuário francês mariano de Notre Dame du Laus, ele celebrou a Missa na forma extraordinária do Rito Romano na igreja de Minims onde ele havia nomeado um padre da FSSP como vigário vários anos antes.

De especial interesse aos leitores do LifeSiteNews são as respostas da entrevista de Léonard sobre o Sínodo da Família. Antoine Pasquier do Famille chrétienne o perguntou: "O segundo Sínodo sobre a Família teve lugar em Outubro. O texto final é aberto à interpretação. Como o senhor o leu, tendo participado na primeira sessão?”

"O que mais fundamentalmente está em jogo no Sínodo é a aliança - em todas as alegrias e sofrimento das famílias e casais - de amor e de verdade."

O Arcebispo Léonard respondeu sem rodeios: "Eu não tive a impressão de progresso real de um sínodo para o outro, em vez disso houve uma repetição do que já havia sido dito. Isso me deixou um pouco insatisfeito. Há coisas boas no texto final, mas eu fiquei um pouco desapontado com o fato de eles terem cultivado ambigüidade em torno das questões mais sensíveis. Alguns bispos me disseram que os textos foram deliberadamente formulados de maneira ambígua, a fim de deixá-los abertos à interpretação em diferentes direções. Tal ambigüidade sobre questões-chave é muito arriscada, pois poderia dar lugar a práticas que seriam muito difíceis de reverter, uma vez que foram instituídas e desenvolvidas.”

"Portanto eu espero", disse ele, "que teremos uma abordagem diferenciada e benevolente, mas que continuará a ser clara sobre os ensinamentos doutrinais e disciplinares da Igreja Católica sobre o casamento e a família. A bola está agora com o Papa. Chegou a hora dele cumprir seu ministério petrino de unidade e continuidade da Tradição, como ele declarou que faria em sua declaração final, no fim do primeiro Sínodo da Família. O que mais fundamentalmente está em jogo no Sínodo é a aliança - em todas as alegrias e sofrimento das famílias e casais - de amor e de verdade. Assim diz o Salmo 84: ‘Amor e verdade se encontrarão; a justiça e a paz se beijarão (se darão as mãos)’.A Igreja deve ser de uma só vez misericordiosa, acolhendo todos com abertura de coração, e fiel aos seus ensinamentos sobre o matrimônio e a família".

O Bispo Leonard foi igualmente claro sobre a idéia de delegar mais poder para as conferências episcopais em matéria de disciplina.

"Isso não é uma boa idéia", disse ele. "Acho que é difícil ver como a disciplina pode ser modulada de um país para outro ou de um continente para outro. Eu acharia extremamente arriscado aos países ocidentais ser permitida uma disciplina mais flexível. Que tipo de imagem isso daria à Igreja? Será que os cristãos dos países mais ricos, além dos maiores confortos que a maioria deles desfrutam, também se beneficiariam de uma disciplina mais confortável? Seria um grande escândalo! Por outro lado, existe um ponto em que a diversidade de locais devem ser tidas em conta: na aplicação pastoral no que diz respeito aos diferentes problemas que aparecem em diferentes continentes, de modo a proporcionar soluções adequadas."

A franqueza do Arcebispo Léonard valeu-lhe não pouca oposição durante seus cinco anos como primaz da Bélgica: uma nação de maioria católica que deu inúmeros missionários para a Igreja na primeira metade do século XX, mas onde o relativismo tornou-se um modo de vida e a prática religiosa tem despencado. Setenta por cento dos menores de trinta anos agora declaram não haver qualquer tipo de ligação com a Igreja Católica e apenas 25 por cento dos casamentos envolvem uma cerimônia religiosa. O declínio acelerado sob o (comando do) Cardeal Danneels, que foi primaz da Bélgica entre 1979 e 2010: ele era da veia da maioria dos bispos belgas que desafiavam abertamente o ensinamento de Paulo VI sobre a contracepção em Humanae vitae em 1968. Como o arcebispo Léonard lida com essa oposição dentro e fora da Igreja?

"Em parte com convicções fortes, em parte por temperamento," ele respondeu. "Durante meus anos de sacerdócio, na convicção da Igreja em respeito aos diferentes aspectos da existência humana. E estou convencido de que o Magistério da Igreja é válido, mesmo nas questões mais sensíveis e controversas. Eu sempre julguei que a minha missão era ser um eco dos ensinamentos de Cristo e da Igreja sobre o destino humano. Por isso nunca me perturbou remar rio acima, às vezes, contra a corrente da sociedade e do espírito dos tempos. Você não diria que isso é um pouco normal? Uma proporção significativa do Evangelho vai contra a natureza. São Paulo, falando aos Romanos, disse: ‘Não vos conformeis com esta época’”.


"Se um homem quer dar sua vida a Cristo, o bispo deve se encontrar com ele! Quando um jovem sente que é importante aos olhos do bispo de sua diocese: isso irá ajudá-lo a fazer sua decisão."

Léonard passou a dizer: “Minhas convicções suscitaram reações variadas: houve aqueles que ficaram felizes em ouvir uma linguagem clara que verdadeiramente os encorajaram a viver suas identidades católicas, e houve outros que protestaram, às vezes mesmo entre os cristãos por realmente não terem gostado – mesmo num mundo onde a liberdade é considerada o valor supremo – que um bispo deve pensar diferentemente da mentalidade dominante. Este tipo de oposição ou discordância é, de certa forma, inevitável. É a sua ausência que tem me incomodado. Jesus não nos prometeu sucesso, mas sim contradição. Mas estas pequenas misérias são apenas uma pequena parte do meu ministério, e não são nada comparadas com o que os bispos sofreram durante os primeiros séculos da Igreja, ou com o que os bispos sofrem hoje no Oriente Médio ou na Ásia!.”  

Apesar da sua reputação de “rigidez” e “intolerância” apregoadas pela mídia belga, as posições católicas firmes de Léonard e claras condenações das manifestações da cultura da morte num país que tem sido um precursor na engenharia social não detiveram os jovens na Bélgica, de responder a seu chamado ao sacerdócio; mas pelo contrário. 

Quando lhe pediram para explicar o repentino aumento das vocações sob sua liderança em Mechelen-Bruxelas, Léonard deixou claro que o que contava em seus olhos era a atitude do bispo para jovens que acham ter uma vocação: isso exige boas-vindas e proximidade, ele disse. "Eu nunca mandei embora um jovem que veio me ver, eu nunca disse a ele para ir primeiro ver o escritório de vocações da diocese, eu sempre os acolhi. Se um homem quer dar sua vida a Cristo, o bispo deve se encontrar com ele! Quando um jovem sente que é importante aos olhos do bispo de sua diocese: isso irá ajudá-lo a fazer a sua decisão. Eu não tenho nenhuma receita milagrosa. Eu simplesmente sempre me mantive aberto às realidades à qual o Espírito Santo ergue na Igreja. (...) Todos os que se apresentam não vão necessariamente se tornar padres, o discernimento é necessário, mas antes de tudo, deve haver uma atitude acolhedora. Que alegria para um bispo atender um homem que quer a consagrar-se à Igreja! Que presente maravilhoso!”

Arcebispo André Léonard, ex- primaz da Bélgica

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